@MASTERSTHESIS{ 2022:574456878, title = {O problema moral da mentira política em Hannah Arendt}, year = {2022}, url = "https://tede.unioeste.br/handle/tede/6318", abstract = "O escopo deste trabalho é discutir a constituição da personalidade moral no contexto contemporâneo em que os fatos são desprezados e contestados como critério de verdade. Partiu-se da observação de que as negações de fatos e eventos históricos – amiúde tratadas como questões de opinião – são acompanhadas pelo recrudescimento de manifestações de ódio, violência e intolerância no espaço público. Questionou-se, diante disso, se a rejeição à fatualidade comprometeria o processo pelo qual a pessoa formula juízos morais, relacionando-se à disposição a “fazer o mal”. Para responder a tal pergunta, reivindicou-se, como suporte teórico, as considerações de Hannah Arendt sobre os fenômenos (i) da mentira política moderna, enquanto negação sistemática e deliberada dos fatos; e (ii) da banalidade do mal, como decorrência da ausência de pensamento, ou falta de reflexão. A investigação partiu da reconstrução da interpretação arendtiana do percurso histórico e intelectual do conflito entre verdade e política que culmina no moderno ataque às verdades fatuais. Em seguida, buscou-se realizar a análise do conceito de mentira política, apresentando-o, a princípio, como um problema estritamente político, na medida em que visa à destruição da realidade compartilhada – composta, justamente, por uma teia de fatos e eventos que vincula os seres humanos uns aos outros. Conjecturou-se, no entanto, que a abordagem política, focando apenas a dimensão da vida humana da convivência com os outros, não seria capaz de esgotar o assunto em toda a sua seriedade e extensão. Arendt enfatizou que, no domínio da política, onde sigilo e falsidade deliberada sempre tiveram um papel importante, o perigo por excelência é o autoengano – caso em que o mentiroso se torna uma vítima das suas mentiras. O que a possibilidade do autoengano coloca em evidência é o relacionamento que o ser humano estabelece consigo mesmo, algo que, a seu ver, diz respeito à moral. Não obstante, Arendt também sustentou que as afrontas morais são impotentes para lidar com mentiras políticas. Apresentou-se, nesse sentido, um obstáculo ao desenvolvimento deste trabalho, o qual só pôde ser superado no terceiro capítulo, dedicado à discussão da relação entre moral e política. Argumentou-se que seria possível encontrar, dentro da teoria arendtiana, elementos que apontam para uma espécie de moral política, cuja categoria central seria o mundo comum e na qual o relacionamento consigo mesmo e o relacionamento com os outros seriam interdependentes. Como, efetivamente, Arendt nunca chegou a escrever um livro ou um ensaio sobre a moral política, esta pesquisa teve de percorrer um amplo recorte de textos da autora para identificá-la, o que permitiu reconhecer a moral política como um tipo de “preocupação moral” que permeia todo o conjunto da obra de Arendt. Ademais, obteve-se como resultado a constatação de que o desprezo pelos fatos é o que torna profícuo o aparecimento daquilo que Arendt chamou de mal extremo e ilimitado, o qual assume a forma da banalidade. Apreciada à luz da moral política arendtiana, a mentira política se revelou, portanto, como um problema, além de político, moral. Um problema cujo enfrentamento exige a reconciliação do pensamento com a fatualidade.", publisher = {Universidade Estadual do Oeste do Paraná}, scholl = {Programa de Pós-Graduação em Filosofia}, note = {Centro de Ciências Humanas e Sociais} }