@PHDTHESIS{ 2020:103716646, title = {O ausente-presente: Merleau-Ponty e o inconsciente primordial}, year = {2020}, url = "http://tede.unioeste.br/handle/tede/4933", abstract = "Merleau-Ponty já, no escopo de sua obra inaugural, programaticamente fenomenológica, propõe o distanciamento tanto em relação ao empirismo quanto ao idealismo. Trata-se, sobretudo, de descrever a inseparabilidade entre a consciência e o corpo, mostrando que este último realiza uma espécie de reflexão. A reflexão deixa de ser um apanágio da consciência pura e simples a fim de irradiar-se intencionalmente na experiência corporal. Há uma intencionalidade operante que se propaga corporalmente. Ao mesmo tempo, para além do idealismo fenomenológico husserliano, Merleau-Ponty também já se aproxima da Psicanálise e o seu corolário conceito de inconsciente a fim de ressignificar certo caráter ambíguo que se inscreve no próprio movimento da corporeidade e da temporalidade. Já a partir dos anos 1950, mais notadamente nos Cursos sobre a Natureza e a Passividade, Merleau-Ponty retorna, por exemplo, a Freud no intuito de ressignificar, numa nova chave de leitura, o inconsciente em sua primordialidade. Isso se deve à noção de natureza primordial como pano de fundo ou horizonte originário. A partir de então até os últimos escritos, numa aproximação cada vez mais recorrente à Psicanálise, Merleau-Ponty reconhece na noção de inconsciente, um ponto de apoio para o desenvolvimento de uma nova ontologia, formulada prospectivamente por ele nos termos de uma “reabilitação ontológica do sensível” tendo na noção de carne o seu vetor conceitual mais radical e contundente. Para tanto, ao desenvolver uma perspectiva ontológica acerca do inconsciente, o filósofo recorre, por sua vez, à noção kantiana de grandeza negativa que entrevê um gênero de oposição real e não lógica entre um sentido presente e ausente que se inscreve na própria dinâmica do inconsciente. Há, digamos, uma contrapartida secreta inerente a esse duplo sentido como dublagem ontológica. O inconsciente se abre, portanto, como um campo primordial revelando um aspecto ausente-presente como estrutura ou camada. Pois bem: o inconsciente primordial é este ausente-presente inerente à própria consciência, que não é mais translúcida ou idealmente purificada, mas ambígua, carnal, permeada por lacunas. É nessa perspectiva, mais particularmente, que Merleau-Ponty, em sua obra tardia, alude, mesmo de maneira fragmentada, à ideia de uma “psicanálise ontológica” em franca oposição à noção sartriana de “psicanálise existencial”. Merleau-Ponty compreende que a percepção enseja o aparecimento de uma configuração entre figura e fundo que se estabelece entre o corpo vivo e os elementos do mundo percebido. Tudo se passa como se o corpo operasse uma espécie de mimetismo com o mundo como carne, em que não é mais possível depurar o que é parte de um ou de outro. Sob esse prisma, tudo aquilo que aparece, aparece sobre um fundo de impercepção, ambíguo e não-tematizado no qual o próprio inconsciente emerge como um modo sui generis de estrutura ausente/presente. Esse novo ângulo de abordagem acerca da percepção impacta também na compreensão dos casos clínicos, principalmente os de cunho neurológico e psiquiátricos, os quais Merleau-Ponty, em grande medida, se apoia ao recorrer seja a alguns estudos clínicos de Freud, seja até mesmo de Binswanger.", publisher = {Universidade Estadual do Oeste do Paraná}, scholl = {Programa de Pós-Graduação em Filosofia}, note = {Centro de Ciências Humanas e Sociais} }